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Patricia Lobaccaro

Solidariedade em resposta aos incêndios da Austrália

ECOA

12/01/2020 04h00

Os incêndios florestais que atingem a Austrália têm tido consequências devastadoras. As chamas já queimaram uma área equivalente a quase o tamanho de Portugal, deixando mais de 1 bilhão de animais mortos e 2 mil casas destruídas, além de milhares de pessoas desabrigadas. Diante disso, tenho acompanhado a mobilização de recursos em apoio às comunidades afetadas, que tem vindo principalmente de pequenos doadores, atletas, celebridades e do setor de varejo. 

Em comparação com a mobilização de recursos em resposta ao incêndio da Catedral de Notre Dame (em Paris), que em poucos dias captou quase 1 bilhão de euros de grandes filantropos, a resposta dos grandes doadores para os incêndios na Austrália veio de forma vagarosa, surgindo somente uma semana depois dos incêndios começarem a aparecer.

Uma das ações mais visíveis e comentadas foi a campanha de arrecadação de recursos criada pela comediante australiana Celeste Barber lançada em sua página do Facebook. Em apenas 4 dias, a campanha já havia arrecadado 40 milhões de dólares australianos, mobilizando mais de 1.2 milhões de doadores e batendo os recordes de arrecadação na plataforma. Celeste inclusive criticou a resposta lenta dos grandes doadores, comparando com a mobilização dos franceses ao incêndio da catedral. 

Inúmeros atos de solidariedade vieram de atletas. O tenista australiano Nick Kyrgios, número 29 do ranking, foi um dos primeiros a se engajar, prometendo doar 200 dólares para cada ace que ele fizesse durante a copa da ATP. Seu exemplo inspirou outros tenistas e a própria ATP, que anunciou que doaria 100 para cada ace feito no campeonato. Em seguida vieram jogadores de cricket, esporte popular na Austrália, que também prometeram doar durante o campeonato e jogadores de basquete australianos da NBA se comprometeram a doar 750 mil.

O setor de varejo, que tem enorme capilaridade e poder de mobilização, vem engajando pequenos comerciantes e empreendedores dedicando dias de venda para doações. Grandes marcas australianas,  como a Zimmermann, dedicaram uma porcentagem de vendas no e-commerce e nas lojas físicas globalmente, enquanto a Havaianas da Austrália dedicou 3 dias de vendas com todos os valores convertidos às comunidades atingidas.

Para além do desastre ecológico, um incêndio dessa magnitude tem consequências também para a economia, afetando principalmente os pequenos empreendedores. Justamente por isso, foi lançada a campanha #SpendWithThem, convidando pessoas a prestigiarem os pequenos empreendedores das regiões afetadas, que geram empregos e têm papel crucial para a vitalidade das economias locais. A iniciativa foi criada pela Turia Pitt, atleta e palestrante australiana que foi vítima de um incêndio e teve 65% do seu corpo queimado quando participava de uma ultramaratona em 2011. O perfil no instagram @spendwiththem em poucos dias já tem 170 mil seguidores. Além de dar visibilidade e direcionar clientes ao comerciante que teve seu negócio afetado, a iniciativa ajuda a evitar a falência dos pequenos empreendimentos – muitos dos quais perderam estoques e acesso aos clientes nas lojas físicas.

Celeste Barber e Turia Pitt sem dúvida estão fazendo história, ao lado de outras celebridades, atletas e marcas. Mas é importante também reconhecer as pequenas ações de solidariedade de heróis anônimos, que quando somadas fazem enorme diferença na vida daqueles que foram diretamente afetados pelo desastre. Os bombeiros, os voluntários, os milhões de doadores que contribuíram com pequenas quantias ou suprimentos, pessoas que ofereceram suas casas para hospedar aquelas que precisaram evacuar de suas residências e o rapaz Patrick Boyle, que arriscou a vida para salvar vários coalas. Todos nós podemos fazer a diferença. 

Sobre a Autora

Patricia Lobaccaro construiu carreira no campo do investimento social, articulando redes e iniciativas para fortalecer projetos transformadores no Brasil. Foi presidente e CEO da BrazilFoundation de 2010 a 2019, mobilizando mais de 35 milhões de dólares em apoio a mais de 500 organizações da sociedade civil no Brasil. Atualmente Patricia atua como consultora no setor social e faz parte do conselho de instituições sem fins lucrativos. É formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo e fez curso de gestão em non-profits em Harvard.

Sobre o Blog

A palavra filantropia tem origem grega e vem das expressões philos, que significa “amor”, e anthropos, que significa “ser humano”, ou seja, amor ao ser humano ou amor à humanidade. A expressão carrega em sua origem a intenção de ajudar ao próximo, “fazer o bem” e doar. Este blog é um convite para um cafezinho e um bate-papo sobre filantropia e impacto socioambiental. Tem como objetivo contar histórias de empreendedores sociais, filantropos e pessoas comuns impactando positivamente comunidades ao redor do Brasil e do mundo. E, por meio dessas histórias, inspirar mais pessoas a agirem por um mundo melhor.