Patricia Lobaccaro http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br Patricia Lobaccaro construiu carreira no campo do investimento social, articulando redes e iniciativas para fortalecer projetos transformadores no Brasil. Mon, 09 Mar 2020 14:38:34 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Como o investimento privado vem se destacando no combate ao coronavírus http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/03/08/como-o-investimento-privado-vem-se-destacando-no-combate-ao-coronavirus/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/03/08/como-o-investimento-privado-vem-se-destacando-no-combate-ao-coronavirus/#respond Sun, 08 Mar 2020 07:00:21 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=93 Faz dois meses que os primeiros casos de coronavírus foram reportados na China, na cidade de Wuhan. Desde então, mais de 95.000 casos foram relatados em 85 países, inclusive no Brasil, e mais de 3.000 pessoas morreram.

Com o número de casos reportados dobrando a cada 5 dias, conter a contaminação e seus efeitos requer esforços de todos os setores, inclusive do setor privado. Será necessário equipar hospitais, investir em pesquisas que possam aprimorar diagnósticos e tratamentos e desenvolver vacinas. Governos, pelo menos em teoria, deveriam ter estrutura para lidar com questões de saúde como essa. Mas as burocracias tornam a velocidade de resposta mais lenta que o ideal. Então vale a pena fazer uma reflexão aqui sobre o importante papel da filantropia em casos de epidemias globais. Embora os recursos privados não tenham a escala do setor público, têm a agilidade de resposta que governos não têm. Como estamos falando literalmente nesse caso de salvar vidas, não podemos subestimar a importância de alinhamento de atuação das empresas, academia e sociedade civil complementando as ações dos órgãos do governo.

De acordo com a Candid, maior centro de inteligência e dados da filantropia mundial, mais de 1 bilhão de dólares de recursos privados foram doados em resposta à doença, bem mais do que o valor mobilizado em outras epidemias como o vírus ebola, ou em virtude de desastres naturais como o furacão Harvey ou os incêndios na Austrália.

A maioria dos recursos doados, 76% do total, vieram da própria China. Eu estudo a filantropia Chinesa há bastante tempo e nunca tinha visto uma mobilização de recursos privados dessa ordem antes. Embora o governo chinês tenha criado mecanismos de dedução fiscal para estimular doações em 2016, o país não tinha filantropia expressiva. De acordo com o World Giving Index, ranking mundial das doações, enquanto o Brasil ocupa a vergonhosa posição 122 entre 146 países, a China ocupa posição ainda pior, o 142º lugar. Portanto, essa expressiva mobilização de recursos, em um período relativamente curto, é praticamente um fato inédito na China.

O maior doador até agora foi a Tencent Holdings, maior portal de internet na China que contribuiu com mais de 200 milhões de dólares, incluindo recursos da empresa e de sua fundação corporativa. Em segundo lugar vem o grupo Alibaba, que já doou 144 milhões, além de 14 milhões doados por seu fundador Jack Ma. Empresas chinesas de tecnologia como Baidu, ByteDance, dona da rede social TikTok, também estão entre as 10 empresas que mais doaram. É interessante também notar também as corporações Chinesas, que além de estarem doando recursos financeiros, estão disponibilizando outros tipos de recursos tecnológicos e serviços, que vão desde mapas que georreferenciam os novos casos da doença, até educação online para crianças em idade escolar.

Nos EUA a maior contribuição vem da Fundação do Bill e Melinda Gates, que estão investindo 100 milhões de dólares, dos quais 60 milhões serão investidos para o desenvolvimento de uma vacina e o restante para diagnóstico e tratamento e proteger populações em situação de risco.

Universidades também têm um papel importante a cumprir. Harvard recebeu uma doação de 115 milhões de dólares para desenvolver, em conjunto com cientistas chineses, uma vacina e tratamentos antivirais que diminuam os sintomas, além de diagnósticos mais precisos. O MIT está simultaneamente captando recursos e lançando um prêmio para soluções e ideias que aprimorem a capacidade de resposta ao COVID-19 e outras doenças.

Epidemias como o coronavírus expõem muitas contradições. Não serão apenas os países com recursos e estrutura limitadas que sofrerão as consequências. Embora os EUA tenham alguns dos melhores hospitais do mundo, 28 milhões de norte-americanos não possuem planos de saúde. Muitas pessoas que vierem a contrair a doença e que teoricamente deveriam se isolar em quarentena, não tem condições econômicas para fazer isso. Epidemias também chegam para testar a resiliência de sistemas de saúde, economias, governos, políticos, empresas e da própria sociedade. Em um momento em que ninguém sabe prever o que vai acontecer, nem mesmo os especialistas, a única certeza é que todos os setores vão ter que somar esforços, alinhar propósitos, compartilhar informações e recursos. A  colaboração, como sempre, será imprescindível.

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O molho de salada e a revista que impactam a vida de milhões de pessoas http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/02/23/o-molho-de-salada-e-a-revista-que-impactam-a-vida-de-milhoes-de-pessoas/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/02/23/o-molho-de-salada-e-a-revista-que-impactam-a-vida-de-milhoes-de-pessoas/#respond Sun, 23 Feb 2020 07:00:37 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=88 O ano era 1980, e o ator Paul Newman e o roteirista A.E. Hotchner decidiram presentear os amigos nas festas de fim de ano com um molho de saladas caseiro, colocado em garrafas de vinho vazias, que vinham com um rótulo com o rosto do Paul Newman e a frase “Newman’s Own”.  A receita devia ser boa, pois os amigos pediram mais. Paul Newman e Hotch decidiram então criar uma empresa para comercializar esses molhos de salada, inicialmente como uma brincadeira, sem muitas expectativas que o negócio iria vingar. A brincadeira deu certo e já no primeiro ano o lucro da empresa excedeu 300 mil dólares, e Paul Newman resolveu doar todo o lucro para instituições de caridade. Assim surgiu a Newman’s Own, uma empresa que hoje vende diversos produtos alimentícios com 100% do lucro revertido para causas sociais.

Após a morte do ator em 2008, o controle da empresa passou a ser da Newman’s Own Foundation , fundação criada por ele e beneficiária da totalidade dos lucros gerados pelo negócio. A empresa passou por um questionamento jurídico com relação à legalidade de uma fundação sem fins lucrativos ser controladora e beneficiária da totalidade dos lucros de uma empresa, até que em 2018 o presidente Donald Trump sancionou a lei que  regulamenta oficialmente a existência das “philanthropic enterprises”, empresas que destinam 100% dos seus lucros para uma causa social. Com a regulamentação jurídica, outras empresas similares estão surgindo nos EUA e a expectativa é de que esse modelo cresça como uma alternativa de financiamento para ações de impacto social e ambiental.

Nessas quase quatro décadas de operação, as doações feitas pela Newman’s Own Foundation totalizam mais de 550 milhões de dólares, investidos em 8.000 instituições. Se Paul Newman deixou um legado na indústria cinematográfica como ator, a Newman’s Own contribui para um legado social muitas vezes maior, que segue impactando a vida de milhões de pessoas, mais de uma década após da morte do ator, em 2008. Seu amigo roteirista A.E. Hotchner, que fundou a empresa com ele, faleceu aos 102 anos na semana passada. Seu legado irá perdurar para muito além das biografias e roteiros que escreveu.

Enquanto isso no Brasil, também no ano de 2008, surgia a semente de uma outra empresa filantrópica, a editora MOL, fruto de uma parceria entre o administrador Rodrigo Pipponzi e a jornalista Roberta Faria, e hoje a maior editora de impacto social do mundo. Na época Rodrigo fazia trabalhos voluntários para o GRAAC, um centro médico dedicado a tratamento e cura do câncer infantil em São Paulo, e percebia o desafio que eles tinham com captação de recursos. Decidiu então criar um produto editorial que tivesse lucro revertido para essa causa, mas logo encontrou a primeira barreira:  o custo de distribuição inviabilizava o negócio. Teve a ideia então de distribuir na rede de farmácias da família, a Droga Raia, que na época tinha 120 lojas. Surgiu assim a Revista Sorria, vendida no caixa das farmácias, com custo patrocinado por empresas de saúde, e lucro revertido para o GRAAC. O resultado foi surpreendente e a primeira edição com 120 mil unidades esgotou em 3 semanas, resultando em 267 mil reais doados. E no primeiro ano, as doações chegaram a quase 1.5 milhões de reais.

Em 2013 veio um divisor de águas para a editora MOL. Quando o GRAAC inaugurou um hospital construído inteiramente com o recurso doado pela Revista Sorria, ampliando em 30% sua capacidade de atendimento, Rodrigo e Roberta perceberam o potencial de impacto e a responsabilidade que tinham nas mãos. Decidiram transformar a editora em um negócio de impacto social inteiramente dedicado a multiplicar esse modelo de doação para além da rede Raia Drogasil.

Hoje os produtos editoriais da MOL podem ser encontrados em grandes redes de loja como a Vivara, Pandora, Petz, RiHappy, WH Smith, no grupo Pão de Açúcar, entre outros. Os produtos editoriais vão além de revistas e livros, incluindo jogos e calendários. Assim como no caso do molho de salada caseiro, que começou com uma ideia simples, o impacto da MOL ultrapassa 33 milhões de reais doados para 70 organizações sociais, como a Turma do Bem, organização que completa 20 anos e oferece atendimento odontológico gratuito para 78 mil crianças e adolescentes por ano. O impacto social da editora transcende o valor das doações. A revista Sorria deu origem à área de investimento social da Raia Drogasil, hoje bem mais robusta e estratégica do que há 10 anos quando a revista foi lançada. Outros projetos na área de saúde serão contemplados nos próximos três anos, e sendo selecionados por meio de um edital.  A empresa constituiu um instituto familiar, que se dedica inclusive a fortalecer a gestão das organizações da sociedade civil e promover a cultura de doação.

A filantropia corporativa no Brasil ainda é muito fraca, mas cada vez mais as empresas começam a entender que devem ter um propósito e um papel de gerar valor para a sociedade além de gerar valor para seus acionistas. Que os legados da editora MOL e da Newman’s Own possam servir de inspiração para empresários ao redor do Brasil. Vale também para que instituições sem fins lucrativos possam pensar em criar braços de negócios que gerem receita para financiar suas missões, para que não dependam somente de doações.

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Ativismo Societário e Capitalismo Consciente http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/02/09/ativismo-societario-e-capitalismo-consciente/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/02/09/ativismo-societario-e-capitalismo-consciente/#respond Sun, 09 Feb 2020 07:00:17 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=85 As novas gerações estão tendo um grande impacto na mudança do comportamento das grandes corporações, pois querem trabalhar, investir e comprar de empresas sustentáveis.  Mas os hábitos de consumo das novas gerações são as únicas responsáveis por essa mudança de paradigma corporativo. Empresas estão sendo pressionadas a adotar comportamentos mais sustentáveis e socialmente responsáveis por um outro grupo: seus investidores. E isso tem um nome: ativismo societário.

E de onde está vindo a demanda por parte de investidores para que as empresas sejam mais sustentáveis? Além das novas gerações, temos também as grandes fundações e seus fundos filantrópicos, ou “endowments”, que nos EUA ultrapassam 1 trilhão de dólares de patrimônio. As fundações precisam investir esses recursos em produtos financeiros compatíveis com suas missões de inclusão social e proteção do meio ambiente. Já há algum tempo as fundações vêm buscando tipos de investimentos que gerem impacto para além das doações filantrópicas que realizam, como as ESGs (sigla em inglês para empresas que têm selo de qualidade nas áreas de meio ambiente, social e boa governança). Recentemente, as fundações começaram a ir além, exercendo cada vez mais seu poder de voto como acionistas para influenciar a adoção de melhores práticas socioambientais nas empresas nas quais investem.

Na Europa acontece algo similar, mas em escala muito maior com os fundos de pensão dos governos. Esses fundos, que ultrapassam 70 trilhões de euros em ativos, também precisam ser investidos em produtos financeiros sustentáveis. O investimento sustentável tem se tornado política adotada pelos países da União Europeia por vários motivos, um dos principais sendo a  gestão de riscos  financeiros decorrentes de mudanças climáticas, degradação ambiental e questões sociais, além de fomentar a transparência e visão de longo prazo na atividade financeira e econômica.

Com a pressão crescente dos investidores para que as empresas tenham propósito além do lucro, começamos a ver um momento de maior protagonismo das empresas em direção às práticas sustentáveis. Recentemente a AMBEV anunciou que até 2025 todas as suas embalagens serão de plástico reciclado, enquanto a Goldman Sachs anunciou que não fará ofertas públicas de capital para empresas que não tenham diversidade em seus conselhos de administração.

Um outro exemplo recente de ativismo societário, em menor escala, mas bastante simbólico, ocorreu em São Paulo quando um grupo de indígenas guaranis comprou ações de uma grande ferrovia para poder denunciar aos outros acionistas a falta de cumprimento de medidas ambientais. 

No ano passado, líderes de 181 grandes empresas globais do Business Roundtable assinaram um manifesto de responsabilidade reafirmando o compromisso dessas companhias com todos os seus stakeholders e com o bem-estar social. Nas últimas semanas líderes mundiais estiveram reunidos em Davos, na Suíça, onde o tema principal do Fórum Econômico Mundial foi a sustentabilidade. Discussões sobre propósito e capitalismo consciente ganharam peso. Tudo indica que 2020 será a década da sustentabilidade. Assim espero.

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Fundos Patrimoniais: um novo modelo de financiamento para universidades http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/01/26/fundos-patrimoniais-um-novo-modelo-de-financiamento-para-universidades/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/01/26/fundos-patrimoniais-um-novo-modelo-de-financiamento-para-universidades/#respond Sun, 26 Jan 2020 07:00:55 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=82 Uma prótese de baixo custo feita com impressora 3D, um foguete que ganhou competição internacional, uma antena 5G e um laboratório de ciência de dados com tecnologia de ponta são alguns dos projetos que foram financiados com recursos do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, uma associação que capta recursos para a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) para incentivar a inovação e o desenvolvimento de tecnologias na faculdade. Fundado em 2009 por um grupo de ex-alunos, o fundo conta hoje com um patrimônio de 31 milhões de reais, tem um modelo de governança robusta e transparente e vem servindo de modelo para outras universidades brasileiras. 

O Amigos da Poli se inspirou no modelo de financiamento das universidades americanas, que tem mais de 600 bilhões de dólares em fundos patrimoniais. A Universidade de Harvard lidera o grupo com patrimônio de mais de 38 bilhões de dólares, seguida pela Universidade do Texas e pela Universidade de Yale, ambas com patrimônios em torno de 30 bilhões de dólares. Se os patrimônios desses endowments (fundos patrimoniais) já chamam atenção, seus impactos na vida acadêmica são igualmente impressionantes. Esses fundos têm suma importância para as universidades por garantirem estabilidade, continuidade das atividades acadêmicas e de pesquisa, por sua aplicação em melhorias no espaço físico, fundos de bolsas, desenvolvimento de tecnologias, inovação e demais investimentos. O patrimônio robusto das universidades americanas também reflete no índice de competitividade dos EUA, uma vez que desenvolvem tecnologias, patentes, incubam startups e com isso fortalecem a economia.

Pioneiro no Brasil e atualmente maior fundo patrimonial de uma universidade brasileira, o Amigos da Poli já financiou 113 projetos propostos por alunos, professores e funcionários, por meio de processo seletivo via edital. O escopo dos projetos financiados é amplo e vai de pesquisa e desenvolvimento tecnológico a projetos em educação e ensino da engenharia. Um dos projetos apoiados, “Desenvolvimento Integrado de Produtos”, resultou na criação de uma nova disciplina na Poli em parceria com a Universidade de Stanford. O projeto teve um efeito multiplicador gigantesco: prêmios conquistados, registros de novas patentes e criação de startups. Já o “Projeto Júpiter”, com foco em desenvolvimento de tecnologia aeroespacial, já envolveu 80 alunos, desenvolvendo protótipos de foguetes que participaram das maiores competições do mundo de foguetes universitários. Um dos participantes desse projeto, Rafael Nass de Andrade, 23, ganhou um concurso do Elon Musk e está hoje na Alemanha desenvolvendo o Hyperloop, um tipo de transporte a vácuo.

Os resultados têm sido promissores. Segundo Lucas Sancassani, diretor presidente do Amigos da Poli, “o investimento na engenharia é um dos maiores vetores de crescimento para um país, pois permite elevar o patamar do desenvolvimento científico e tecnológico”.

O endowment da Poli inspirou a criação de vários outros fundos patrimoniais em universidades. Paula Fabiani, Diretora Presidente do IDIS, que coordena a Coalizão Pelos Fundos FIlantrópicos comemora: “É crescente o movimento de universidades criando seus fundos patrimoniais, em especial as públicas que se beneficiaram com a aprovação da lei 13.800”. Entre as universidades públicas criando fundos patrimoniais vale destacar a FEA, Faculdade de Economia e Administração da USP, a UNICAMP e a UNESP. Também merecem destaque o endowment da Faculdade de Direito da FGV – que tem um foco em bolsas de ajuda de custo – e o endowment da PUC Rio, que tem apoiadores importantes como Armínio Fraga e Pedro Malan e pretende arrecadar R$160 milhões em 5 anos para bolsas de estudo, pesquisa científica e novos cursos. 

Mas ainda há desafios: a cultura de doação no Brasil ainda está se consolidando e, embora o  ambiente jurídico e regulatório tenham avançado, ainda há muita margem para aprimoramento. A lei dos fundos patrimoniais foi sancionada no ano passado, mas os artigos de incentivo fiscal para pessoa física foram vetados. Um dos motivos pelos quais as universidades nos Estados Unidos conseguem arrecadar tantos recursos oriundos de doações privadas são as leis de incentivo fiscal da receita federal america.

Os fundos patrimoniais  de universidades podem ser um caminho importante a ser trilhado nos próximos anos para acelerar a inovação e fortalecer as instituições de ensino superior no Brasil. 

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Solidariedade em resposta aos incêndios da Austrália http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/01/12/solidariedade-em-resposta-aos-incendios-da-australia/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2020/01/12/solidariedade-em-resposta-aos-incendios-da-australia/#respond Sun, 12 Jan 2020 07:00:35 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=79 Os incêndios florestais que atingem a Austrália têm tido consequências devastadoras. As chamas já queimaram uma área equivalente a quase o tamanho de Portugal, deixando mais de 1 bilhão de animais mortos e 2 mil casas destruídas, além de milhares de pessoas desabrigadas. Diante disso, tenho acompanhado a mobilização de recursos em apoio às comunidades afetadas, que tem vindo principalmente de pequenos doadores, atletas, celebridades e do setor de varejo. 

Em comparação com a mobilização de recursos em resposta ao incêndio da Catedral de Notre Dame (em Paris), que em poucos dias captou quase 1 bilhão de euros de grandes filantropos, a resposta dos grandes doadores para os incêndios na Austrália veio de forma vagarosa, surgindo somente uma semana depois dos incêndios começarem a aparecer.

Uma das ações mais visíveis e comentadas foi a campanha de arrecadação de recursos criada pela comediante australiana Celeste Barber lançada em sua página do Facebook. Em apenas 4 dias, a campanha já havia arrecadado 40 milhões de dólares australianos, mobilizando mais de 1.2 milhões de doadores e batendo os recordes de arrecadação na plataforma. Celeste inclusive criticou a resposta lenta dos grandes doadores, comparando com a mobilização dos franceses ao incêndio da catedral. 

Inúmeros atos de solidariedade vieram de atletas. O tenista australiano Nick Kyrgios, número 29 do ranking, foi um dos primeiros a se engajar, prometendo doar 200 dólares para cada ace que ele fizesse durante a copa da ATP. Seu exemplo inspirou outros tenistas e a própria ATP, que anunciou que doaria 100 para cada ace feito no campeonato. Em seguida vieram jogadores de cricket, esporte popular na Austrália, que também prometeram doar durante o campeonato e jogadores de basquete australianos da NBA se comprometeram a doar 750 mil.

O setor de varejo, que tem enorme capilaridade e poder de mobilização, vem engajando pequenos comerciantes e empreendedores dedicando dias de venda para doações. Grandes marcas australianas,  como a Zimmermann, dedicaram uma porcentagem de vendas no e-commerce e nas lojas físicas globalmente, enquanto a Havaianas da Austrália dedicou 3 dias de vendas com todos os valores convertidos às comunidades atingidas.

Para além do desastre ecológico, um incêndio dessa magnitude tem consequências também para a economia, afetando principalmente os pequenos empreendedores. Justamente por isso, foi lançada a campanha #SpendWithThem, convidando pessoas a prestigiarem os pequenos empreendedores das regiões afetadas, que geram empregos e têm papel crucial para a vitalidade das economias locais. A iniciativa foi criada pela Turia Pitt, atleta e palestrante australiana que foi vítima de um incêndio e teve 65% do seu corpo queimado quando participava de uma ultramaratona em 2011. O perfil no instagram @spendwiththem em poucos dias já tem 170 mil seguidores. Além de dar visibilidade e direcionar clientes ao comerciante que teve seu negócio afetado, a iniciativa ajuda a evitar a falência dos pequenos empreendimentos – muitos dos quais perderam estoques e acesso aos clientes nas lojas físicas.

Celeste Barber e Turia Pitt sem dúvida estão fazendo história, ao lado de outras celebridades, atletas e marcas. Mas é importante também reconhecer as pequenas ações de solidariedade de heróis anônimos, que quando somadas fazem enorme diferença na vida daqueles que foram diretamente afetados pelo desastre. Os bombeiros, os voluntários, os milhões de doadores que contribuíram com pequenas quantias ou suprimentos, pessoas que ofereceram suas casas para hospedar aquelas que precisaram evacuar de suas residências e o rapaz Patrick Boyle, que arriscou a vida para salvar vários coalas. Todos nós podemos fazer a diferença. 

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Rafael Bahia: exemplo de humanidade e cidadania http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/12/29/rafael-bahia-exemplo-de-humanidade-e-cidadania/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/12/29/rafael-bahia-exemplo-de-humanidade-e-cidadania/#respond Sun, 29 Dec 2019 07:00:53 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=73

Rafael dos Santos (Bahia), em 23 de Maio de 2015

Durante minha  trajetória no terceiro setor, por todos os cantos do Brasil por onde passei tive a oportunidade de conhecer pessoas extraordinárias que me inspiraram, que me ensinaram e que ajudaram a me moldar como pessoa e como profissional. Dedico minha última coluna do ano a uma delas: o Rafael dos Santos – conhecido como Bahia. Esse texto é uma homenagem a um grande brasileiro e uma reflexão sobre cidadania, sobre doação e sobre humanidade.

Rafael Bahia era catador de reciclados há 29 anos na região da Cracolândia. Estima-se que no Brasil existam mais de 800 mil catadores, sendo eles os  responsáveis por 90% da reciclagem do país.  Esse serviço que é tão importante para o ecossistema urbano é realizado por um dos profissionais menos valorizados: os catadores. Por isso surgiu o Pimp My Carroça, iniciativa que veio para tirar os catadores de materiais recicláveis da invisibilidade e promover melhores condições de trabalho e renda para a categoria e que recentemente lançou um aplicativo, Cataki, que conecta os catadores com estabelecimentos que tem materiais reciclados para coleta.

Era dia 23 de maio de 2015, véspera do II Gala da Brazil Foundation (em São Paulo), um jantar beneficente que arrecada recursos para projetos no Brasil e íamos levar algumas das iniciativas beneficiadas pela fundação para participar do jantar. O Pimp My Carroça era uma delas. Três catadores iam participar do jantar e fui conhecê-los antes do evento. 

Passei  uma tarde inteira conversando com o Bahia – sentada na calçada em frente ao cortiço onde ele morava – enquanto sua carroça estava sendo recauchutada. Articulado, ele sabia exatamente quantas árvores ele tinha salvado baseado nos 300 quilos de papelão que recolhia todos os dias. Em suas quase três décadas de trabalho com reciclagem haviam sido mais de 100 mil árvores poupadas. Ele tinha muito orgulho do seu trabalho como catador, mas me contou que também sofria agressões. Às vezes gritavam para ele: “E aí véio, já comeu seu capim hoje?”. Uma vez um rapaz chegou e deu um tapa na orelha dele e perguntou se ele não ia revidar. Bahia não comprava briga: abaixava a cabeça e seguia sua jornada. Não sei se os maiores calos que ele tinha eram os das mãos ou os da alma.

Bahia não era apenas um microempreendedor da reciclagem. Ele era a voz dos catadores, chegou a fazer uma palestra no TEDx no Colégio Dante Alighieri. Tinha consciência do bem que ele fazia para o meio ambiente e da sua contribuição imprescindível para a limpeza da cidade que ele tanto amava. Com a reciclagem conseguiu criar seus  10 filhos, sempre incentivando que eles estudassem e não seguissem o exemplo do pai de largar a escola.

Com a reciclagem, Bahia conseguiu criar 10 filhos sempre incentivando que eles estudassem e não seguissem o exemplo do pai de largar a escola

Quando eu expliquei para ele qual era o propósito do jantar de Gala que ele ia participar – que estávamos arrecadando recursos para projetos que promovem inclusão social, educação e oportunidades para públicos marginalizados – ele pegou uma latinha, contou as notas e me entregou 20 reais. Isso equivalia a um dia do seu trabalho duro recolhendo materiais reciclados pelas ruas do centro antigo da capital paulista. Por um breve instante ponderei se deveria aceitar a doação ou não, olhei para o Mundano, fundador do Pimp My Carroça, que me acenou com a cabeça dizendo que sim. Com a cabeça erguida,  Bahia me contou que gostava de ajudar e que contribuia todos os anos com o Criança Esperança, enfatizando que telefonava para doar várias vezes. Perguntei por que ele doava e ele respondeu que achava importante investir nas crianças do Brasil. Ele confirma a estatística de que no Brasil as pessoas mais pobres doam 3 vezes mais do que as pessoas que ganham mais. Rafael dos Santos representa um Brasil invisível, pouco valorizado, que trabalha duro e de maneira honesta, e que tem nível de consciência e cidadania mais elevado do que muita gente.

Dois dias depois, no jantar de gala, ele estava emocionado. Me contou que por 20 anos passou em frente da Sala São Paulo recolhendo reciclados e nunca imaginou que um dia pudesse estar lá dentro. Olhou pra mim com os olhos marejados e agradeceu “Patricia, obrigado. Vocês me mostraram o mundo”.

Poucos meses depois, Mundano foi convidado para ser uma das personalidades que iriam carregar a tocha Olímpica pelas ruas de São Paulo e delegou a honra ao Bahia. Rafael iria representar os mais de 800 mil catadores do Brasil conduzindo um símbolo mundial que representa a paz entre os povos. Teria sido uma grande honra para ele e sua família, mas na noite anterior ele faleceu. Seu coração, que era tão grande, do tamanho das crianças, das árvores e das florestas do Brasil, não resistiu. 

Rafael dos Santos chegou a ter temporariamente uma rua com seu nome, uma ação dos ativistas em sua homenagem, mas ele merecia um nome de rua de forma permanente. Que seu exemplo sirva de inspiração para todos nós nessa virada de década. Que a gente possa ser mais generoso, mais humano, que a gente invista nas nossas crianças e que a gente cuide melhor das nossas cidades. Desejo a todos vocês uma boa década de 20, com humanidade, cidadania e respeito. Rafael Bahia, RIP.

 

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Seus centavos podem mudar vidas http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/12/15/seus-centavos-podem-mudar-vidas/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/12/15/seus-centavos-podem-mudar-vidas/#respond Sun, 15 Dec 2019 07:00:46 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=65 E se aquelas moedas que a gente tem no fundo da bolsa, ou deixa cair pela calçada e nem se preocupa em pegar de volta, pudessem transformar a vida de alguém? Arrecadações de moedas em cofrinhos não são nenhuma novidade, mas nessa época em que moedas físicas estão caindo em desuso, surgem diversas opções de cofrinhos virtuais, que têm enorme potencial de crescimento. E em um momento em que o financiamento para projetos sociais está minguado e as organizações estão precisando se reinventar e diversificar fontes de recursos para conseguirem manter seus projetos, o arredondamento de centavos pode ser uma alternativa valiosa. 

No Brasil, a cada minuto são realizadas 36 mil transações em cartão de crédito. No ano passado foram feitas quase 10 bilhões de transações em apenas uma das bandeiras do mercado de cartões de crédito. Se cada transação dessa única empresa tivesse um arredondamento de 10 centavos, estaríamos falando de 1 bilhão de reais em doações. O e-commerce no Brasil também vem ganhando peso – a BlackFriday cresceu 23% com relação ao ano passado, totalizando mais de 5 milhões de pedidos feitos e 3.2 bilhões de reais movimentados somente via e-commerce. Se conseguirmos conscientizar os lojistas a habilitarem as doações de troco em suas lojas físicas e virtuais, isso pode representar uma importante fonte de recursos para as organizações da sociedade civil.

Uma das iniciativas pioneiras de “troco solidário” no Brasil é o Movimento Arredondar, que surgiu em 2011 com o objetivo de tornar o ato de doar mais fácil e acessível, fortalecendo a cultura de doação no país. Desde então, o Arredondar – que tem parceria com grandes lojistas como Pão de Açúcar e Burger King – já arrecadou mais de R$ 4 milhões de reais distribuídos para mais de 50 organizações atuantes em diferentes causas.  Para instituições sem fins lucrativos, a doação de troco pode ser uma fonte de receita imprescindível. Um exemplo é o Hospital da Baleia, em Belo Horizonte, que já arrecadou mais de 10 milhões de reais através de troco solidário, em parceria com a rede de lojas da Drogaria Araújo.

Uma outra iniciativa é a Pólen, plataforma que surgiu com o objetivo de descomplicar iniciativas corporativas de impacto, criando mecanismos para lojas físicas, virtuais ou aplicativos doarem uma porcentagem das duas vendas. Desde 2017, 230 lojas cadastradas contribuíram com 500 mil reais em apoio a 100 projetos diferentes. O “Bom Troco”, ferramenta lançada pela Pólen recentemente, também oferece a opção de arredondamento de centavos.

Já a plataforma inCENTive tem uma outra abordagem: promover o engajamento a partir do  doador que cadastra seu cartão de crédito a uma determinada causa ou instituição de sua escolha, independentemente de onde fizer as compras. O usuário recebe mensalmente extratos das suas compras feitas no cartão, o valor de cada arredondamento e o total doado para a instituição escolhida. Uma das campanhas mais inspiradoras que vi ultimamente é a Centavos Realizam Sonhos, feita pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), que desde 1950 trabalha com inclusão de pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. Os centavos que muitas vezes são ignorados, quando somados, podem mudar a vida de uma pessoa.

Hoje em dia se fala muito da experiência do usuário. Pensando nisso, o processo de doação precisa ser simples, intuitivo e transparente. Essas plataformas são bastante sofisticadas em termos de transparência e facilmente adaptáveis a novos conceitos de tecnologia, como o blockchain. Tais ferramentas ampliam a possibilidade de arrecadação, de maneira quase imperceptível para quem colabora. O brasileiro é solidário e disposto a contribuir, mas às vezes por falta de tempo e canais que possibilitem doações de maneira fácil, acaba não se engajando como deveria.

É importante conscientizar os lojistas a habilitarem esse tipo de ferramenta e os clientes a participarem sempre que possível.

O que é invisível para muitos, pode mudar a vida de outra pessoa. Nesse final de ano, que é uma época de compras, que tal arredondar os seus centavos e fazer a diferença na vida de alguém? 

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Microescolas e alternativas educacionais para o Brasil http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/12/01/microescolas-e-alternativas-educacionais-para-o-brasil/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/12/01/microescolas-e-alternativas-educacionais-para-o-brasil/#respond Sun, 01 Dec 2019 07:00:02 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=60 Todos sabem que o modelo de escola tradicional tem sentido o peso do tempo e não mais atende às necessidades dos alunos no desenvolvimento das competências necessárias para os dias de hoje.  Nossos alunos não estão aprendendo. Há um distanciamento entre a escola e a vida real. Muito tem se falado sobre a necessidade de personalizar a educação, de ressignificar o papel do professor, de investir em ferramentas de autoconhecimento e desenvolvimento de competências socioemocionais e de criar alternativas para esse modelo de educação atual. 

 Nos Estados Unidos um novo formato de escolas tem despertado interesse de pais, alunos e de investidores, as chamadas micro-schools, ou microescolas, que são escolas com modelo de educação alternativas que misturam faixas etárias diferentes na sala de aula, têm flexibilidade no currículo, são adaptáveis às realidades locais e oportunizam a experimentação de soluções de aprendizagem inovadoras. O conceito vem ganhando força e atraindo investimentos de grandes fundações como a Walton Family Foundation que  anunciou aporte de 15 milhões de dólares para financiar inovações no campo das microescolas. Não é somente nos EUA que as microescolas estão ganhando momentum, experiências similares também estão sendo implementadas com sucesso na China e na Índia.

Durante minhas quase duas décadas de envolvimento com financiamento de projetos educacionais no Brasil, tive a oportunidade de conhecer inúmeros modelos inovadores de educação. Um exemplo é a  Escola de Baixo do Pé de Manga, criada por Tião Rocha, uma escola sem salas de aula. Segundo Tião, educação se faz com bons educadores e o modelo escolar arcaico há décadas dá sinais de falência. “Não precisamos de sala, precisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os instrumentos possíveis que levem a criança a aprender”. No Mato Grosso do Sul, o Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (IPEDI) incubou uma série de iniciativas educacionais seguindo o modelo de comunidade educadora. O Barco de Letras, programa de alfabetização de ribeirinhos, com material didático desenvolvido de acordo com a realidade local, e o projeto Kalivono, que criou junto com professores de escolas indígenas um currículo bilíngue (português e língua terena), incorporando a cultura local no material didático. Modelos que surgem a partir dos saberes e culturas regionais e que integram a aprendizagem à realidade local são abundantes, mas o financiamento para iniciativas como essas ainda precisam ser equacionados.

Recentemente fui conhecer uma das unidades do Alicerce Educação, startup educacional com alto potencial de escalabilidade e oferece complementação escolar presencial de forma bastante similar ao modelo das microescolas. Além do reforço escolar nas disciplinas base, trabalha bastante o aspecto sócio emocional, além do desenvolvimento de planos de vida com os alunos mais velhos, que podem ser relacionados a empreendedorismo, acesso a universidade ou estágio. 

Ao invés do professor, tem-se o modelo de “líder”, onde geralmente há um jovem recém-formado na universidade – com características socioeconômicas parecidas com as dos alunos – que atua como facilitador do processo de aprendizagem e tem autonomia na elaboração dos planos de aula. Os primeiros resultados do projeto são bastante promissores, não apenas do ponto de vista da evolução do conteúdo escolar, mas também da possibilidade de aumento de renda – principalmente para as mães que têm um local seguro para deixar os filhos e poder trabalhar.

O modelo de educação descentralizado das micro-escolas (com autonomia para o educador e currículo adaptado às características regionais) poderia ser uma alternativa educacional para o Brasil, especialmente em regiões remotas ou onde o poder público não chega. Nos últimos 15 anos, mais de 30 mil escolas rurais foram fechadas no país e em muitas comunidades jamais existiram escolas. 

Ficam aqui algumas reflexões: como desenvolver um modelo de filantropia capaz de incubar experiências educacionais de maneira robusta e capilarizada? Será que modelos baseados em mercado, como o Alicerce, conseguirão escalar para regiões remotas (respeitando a riqueza cultural regional, dentro de um modelo economicamente sustentável)? Seria viável criar um modelo de financiamento público para essas escolas alternativas? 

Metodologias educacionais eficazes e inovadoras não faltam. É preciso encontrar meios de disseminar soluções como essas para públicos mais amplos. 

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O que podemos aprender com Irmã Dulce sobre captação de recursos http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/11/17/o-que-podemos-aprender-com-irma-dulce-sobre-captacao-de-recursos/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/11/17/o-que-podemos-aprender-com-irma-dulce-sobre-captacao-de-recursos/#respond Sun, 17 Nov 2019 14:23:09 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=50 Na semana em que Irmã Dulce foi canonizada pelo Vaticano, Nizan Guanaes disse que ela era  merecedora de um estudo de caso em Harvard. A freira baiana foi a primeira mulher brasileira a se tornar santa e sua obra social, que começou num galinheiro nos fundos do convento, hoje é uma das maiores instituições filantrópicas com atendimento 100% gratuito do Brasil.

A iniciativa Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), fundada em 1959, hoje faz cerca de 3,5 milhões de procedimentos por ano e conta com 21 núcleos que promovem saúde, educação e assistência social.  O hospital conta com mil leitos, faz 18 mil internamentos e realiza 2 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano. O Centro Educacional Santo Antônio nasceu como um orfanato e hoje é uma escola de tempo integral e oferece acesso a arte-educação, inclusão digital, atividades esportivas. A entidade responde também pelo Centro de Convivência Irmã Dulce dos Pobres, localizado no Centro Histórico de Salvador.

Uma obra desse tamanho não sobrevive só com bondade. Obras sociais precisam de recursos. E o “anjo bom da Bahia”, como era conhecida, sabia captar.

E o que podemos aprender com ela sobre  arrecadação de recursos?

Paixão pela causa acredito que seja o ingrediente número um. Quando se acredita na causa é possível perceber o brilho nos olhos de quem está pedindo a doação. Captar recursos é antes de tudo compartilhar sonhos.

Networking também é fundamental. Ela circulava em vários grupos, de presidentes, militares, ricos e poderosos e não tinha vergonha de pedir dinheiro.

Comprometimento, dedicação e disciplina são imprescindíveis. Segundo Nizan, era santa com os pobres, mas pragmática com os ricos. Ele conta que ela ficava na sala de espera do futuro doador e só saía de lá quando o próprio se dignava a recebê-la. Dizem que ela até cantava em praça pública para conseguir recursos para sua obra.

Ela era também a principal embaixadora da sua causa. Irmã Dulce não gostava de imprensa, mas, quando percebeu que sua imagem “vendia”passou a usá-la para captar recursos.  Ângelo Calmon de Sá, que foi um dos grandes apoiadores de Irmã Dulce e integra o Conselho de Administração da OSID, conta que um documentário sobre ela exibido na Rede Globo em 1982 trouxe muita visibilidade para a causa e ajudou a fechar as contas naquele ano.  Sua imagem ganhou mais força quando foi indicada pela Rainha Silvia da Suécia e o ex-presidente José Sarney para receber o Prêmio Nobel da Paz. 

Depois de sua morte, em 1992, a entidade continua precisando de recursos, tendo encerrado o ano de 2018 com um deficit de R$11 milhões. Para apoiar a instituição, acesse o link.

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O que a Black Friday tem a ver com filantropia comunitária? http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/11/03/dia-de-doar-e-filantropia-comunitaria/ http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/2019/11/03/dia-de-doar-e-filantropia-comunitaria/#respond Sun, 03 Nov 2019 07:00:50 +0000 http://patricialobaccaro.blogosfera.uol.com.br/?p=44 Você já ouviu falar no Dia de Doar? É o dia mundial da doação e cai sempre na terça-feira após o Dia de Ação de Graças e a “Black Friday”.  Esse dia dedicado a doações surgiu nos Estados Unidos em 2012 em resposta ao consumo exagerado dessa época de fim de ano e hoje acontece em 55 países do mundo. No Brasil, o Dia de Doar vem crescendo como um grande movimento para promover a cultura de doação e, em 2019, um destaque especial serão as Campanhas Comunitárias com ações que acontecerão em várias cidades do Brasil. 

Nos Estados Unidos, a filantropia comunitária é muito desenvolvida. Existem mais de 1.700 fundações comunitárias que mobilizam recursos para apoiar projetos em um território específico. Um exemplo é a Brooklyn Community Foundation, no bairro do Brooklyn em Nova York, que é a região que tem os maiores índices de pobreza da cidade e ao mesmo tempo uma das mais gentrificadas. A BCF mobiliza recursos entre moradores e empresas da região para apoiar os mais variados tipos de projetos, com participação da comunidade na escolha das organizações beneficiadas e fazendo uma grande campanha no Dia de Doar, a #brooklyngives.  

Esse tipo de ação de campanhas de doação com foco regional está crescendo no Brasil. Neste ano, campanhas de arrecadação comunitária estarão acontecendo em cidades de Norte a Sul do Brasil. Um exemplo é o #DoaSorocaba, que  já acontece há alguns anos e tem como meta transformar Sorocaba (SP) na cidade mais generosa do Brasil. Outro movimento que merece destaque é o  #DoaSãoJosé, realizado pelo Fundo Social de Solidariedade de São José dos Campos em apoio a mais de 110 organizações da sociedade civil da região. O Dia de Doar 2019 também tem ações programadas em Gramado, Salvador, Curitiba, Maringá, Limeira, Mogi e no Rio Grande do Norte.  

O Movimento do Dia de Doar é importantíssimo para a democratização da filantropia e promoção do protagonismo cidadão. Ele acontece a partir da crença de que todos podem doar, que toda doação conta, que todos nós somos agentes de transformação e responsáveis pelo desenvolvimento das nossas comunidades. A mobilização de pessoas em torno de causas comuns pode ser realmente transformadora.

Um exemplo bonito de solidariedade regional é a campanha Abrace o Semiárido, realizada pelo CEPFS em Teixeira, na Paraíba. No ano passado, a campanha mobilizou mais de 500 doadores no semiárido paraibano em uma grande ação para arrecadar recursos para a construção de cisternas de água. Foi uma mobilização inspiradora, que teve apoio de escolas, associações, pequenos comerciantes, agricultores e inclusive famílias que foram beneficiadas com a construção de cisternas em anos anteriores. O semiárido abraçando o semiárido.

O desenvolvimento socioeconômico só é sustentável quando comunidades se tornam protagonistas do seu próprio desenvolvimento. Campanhas de doação comunitárias podem ser um importante catalisador para isso. Neste Dia de Doar, que acontecerá em 3 de dezembro, procure uma campanha de doação na sua cidade e participe!

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